quinta-feira, 5 de maio de 2011

DIREITOS HOMOSSEXUAIS OU HOMOAFETIVOS



Está sendo reconhecido pela maioria dos ministros do Superior Tribunal Federal (STF) o “direito à união civil” dos casais homossexuais ou homoafetivos no Brasil. O julgamento está se encaminhando para aprovação de tal direito, que dará aos aludidos casais inúmeros outros direitos, até então desfrutados pelos casais heterossexuais e negados aos casais não-heteros, a exemplo de:

- Unir renda para aprovar financiamentos ou comprar imóveis;
- Fazer declaração conjunta de Imposto de Renda;
- Ser reconhecida a união estável de direito e adotar sobrenome de parceiro;
- Acompanhar parceiro servidor público transferido;
- Herança;
- Inscrever parceiro como dependente de servidos público;
- Ser inventariante do parceiro falecido;
- Receber abono família e auxílio funeral;
- Licença maternidade;
- Licença luto;
- Outros.

Antes da decisão ser finalizada, já há reações das mais diversas. O site do Jornal o Globo On-line, através do link: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/05/05/cnbb-uniao-entre-homossexuais-a-destruicao-da-familia-924393179.asp, divulgou algumas reações de bispos católicos reunidos na conferência anual da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Algumas reações radicais, outras mais cautelosas, mas todas enfatizando uma preocupação com questões morais relacionadas ao conceito de família construído a partir da teologia cristã.

Algumas opiniões mais exaltadas chegam a confundir “união estável” com “matrimônio”, este último sendo um sacramento da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR). Em um de seus comentários diz o site:



“O arcebispo de Maringá (PR), dom Anuar Battisti, afirmou que a união entre homossexuais aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) representa uma ‘agressão frontal’ à família, fato com o qual a Justiça estará ‘institucionalizando a destruição da família’ ”.

Lamentavelmente, algumas pessoas ainda se acham detentoras de uma “verdade”. Mas esse não é o problema, o problema ocorre quando desejam impor suas “verdades” aos outros, mesmo que tais idéias sejam carregadas de preconceitos e afetem diretamente o direito à dignidade humana do outro, simplesmente pelo fato de serem diferentes, pensarem diferente, e desejarem viver de forma diferente.

Quando será que se construirá uma teologia preocupada com a justiça, o direito e felicidade das pessoas? Quando será que o ser humano será mais valorizado do que a moralidade opressora imposta pelos discursos de dominação e controle social, sejam estes religiosos ou governamentais? Quando abriremos os olhos para a realidade complexa da condição humana?

Os discursos de alguns bispos da ICAR no Brasil, quando associam a homossexualidade a abominação, imoralidade ou desvio moral e, consequentemente, a incompatibilidade com o conceito de “família”, parecem desconhecer ou desconsiderar a própria realidade da igreja a qual representam, onde há inúmeros sacerdotes homossexuais ou homoafetivos, que não tiveram, talvez, outra forma de suportar os preconceitos construídos pela própria teologia cristã na sociedade e foram buscar refúgio, na tentativa de camuflar ou reprimir seus sentimentos e desejos, na vida sacerdotal no seio da igreja.

A grande maioria das vítimas dessa moral cristã “hipócrita” (palavra usada muito por Jesus para apontar alguns religiosos de sua época) e cega, que assumiu o sacerdócio, não conseguiu subjugar seus desejos homossexuais ou homoafetivos e, nem por isso, deixaram de se transformar em excelentes cuidadores (pastores) de gente, constituindo-se em grande exemplos de valores atribuídos à família.

A maioria das igrejas protestantes/evangélicas, também tendem a condenar a homossexualidade com veemência. A moralidade protestante/evangélica pouco difere da católica, com a diferença que havendo uma pluralidade muito grande de teologias e doutrinas independentes nesses seguimentos, algumas denominações elaboram discursos mais tolerantes com viés de respeito à diversidade sexual, no entanto, são discursos minoritários ou casos isolados.

É importante destacar, que entre sacerdotes protestantes e católicos, o discurso condenatório ao homossexualismo ou à homoafetividade não é unânime. Muitos padres, bispos e pastores defendem teologias que reconhecem e respeitam a diversidade humana como obra da criação divina. Mas essas construções por serem de uma minoria, dificilmente chegam ao conhecimento das pessoas e são impedidas de serem colocadas em prática no seio das igrejas institucionais (comunidades).

Em se falando de teologia cristã, gostaria de fazer uma observação: Chamar atenção para uma passagem bíblica contida no capítulo 10, do livro de Atos dos Apóstolos, onde Pedro em um diálogo com Cornélio passa-lhe suas conclusões dos ensinamentos e mensagens divinas, afirmando no versículo 34, o seguinte:
“Então falou Pedro, dizendo: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas”. É verdade que a citação carece de uma exegese e contextualização, no entanto a mensagem principal do referido texto fica muito próxima do seu sentido literal aqui colocado. Talvez para aqueles que utilizam a Bíblia como fundamento de suas construções teológicas fosse interessante refletir sobre tal mensagem.

Lamentavelmente já ouvi muitos discursos inflamados, principalmente em igrejas evangélicas, onde o pastor exaltava-se no discurso ao pregar um trecho da Primeira Carta aos Coríntios, no capítulo 6, entre os versículos 9 e 10 que diz o seguinte:  “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus”

Tal texto atribuído ao apóstolo Paulo cai como uma luva para quem deseja justificar e reforçar os preconceitos contra uma série de classificações que carecem de uma exegese mais detalhada, no entanto, tal exegese não tiraria a intenção judaico-moralista da mensagem que contradiz o trecho bíblico supracitado anteriormente (Atos 10, 34). Mas como diz o teólogo Antonio Carlos Magalhães, uma hermenêutica (teoria da interpretação) é uma questão de escolha, de acordo com a finalidade a ser alcançada, por isso, dependendo da intenção, alguns fundamentos bíblicos podem ser exaltados, enquanto outros podem ser isolados.



Para finalizar esta reflexão valendo-me do direito de pensamento, crença e expressão que faço jus, gostaria assim como alguns colegas sacerdotes cristãos, aqui expressar minha escolha hermenêutica, no sentido de defender o direito à união civil entre pessoas do mesmo sexo no Brasil, assim como, todos os demais direitos usufruídos por pessoas fruto de uma união entre sexos diferentes. Teologicamente defendo a complexidade da humanidade entendendo que se somos criação de Deus, este nos fez como nós somos, com todas as nossas diferenças (gênero, cor, sexualidade etc), portanto, hetero, homo, bi, trans, seja qual for o prefixo que se dê à sexualidade, todos fazem parte da condição humana que é complexa e estabelecida pela natureza.

O fato de pessoas serem do mesmo sexo ou de sexos diferentes não é importante para a compreensão e a constituição da concepção de família. O que define uma família são as relações, os sentimentos, os cuidados, entre as pessoas mutuamente. A amizade, a consideração, o amor, o desejo, assim como, a antipatia, o desrespeito, o ódio e o desprezo são sentimentos inerentes do gênero humano, não é a sexualidade das pessoas o determinante dessas coisas.

A compreensão e o respeito pelo diferente são essenciais para a prática da justiça, da paz e do amor. Pelo menos é o que pregam as religiões. Difícil é se colocar em prática tais preceitos.


fernando.teologia@gmail.com




domingo, 1 de maio de 2011

NÚCLEO DE ESTUDO DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E INDÍGENA – NEAFRO



NÚCLEO DE ESTUDO DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E INDÍGENA – NEAFRO
Nota
15 de abril de 2011

ATIVIDADES RELIGIOSAS ALUSIVAS ÀS COMEMORAÇÕES DA SEMANA DO EXÉRCITO NA 6ª REGIÃO MILITAR



No último dia 15 de abril, como parte das comemorações da Semana do Exército, a 6ª Região Militar (6ª RM), através de sua Capelania (seção responsável pelo Serviço de Assistência Religiosa no âmbito da 6ª RM) promoveu na Escola de Formação Complementar do Exército (EsFCEx), localizada no bairro da Pituba, diversas atividades religiosas alusivas à referida semana. Foram realizados uma missa, um culto evangélico, uma reunião espírita e, pela primeira vez, uma reunião das religiões de matriz africana e indígena com a presença de militares e seus familiares e convidados, reafirmando o reconhecimento e valorização da diversidade cultural e religiosa da população baiana e brasileira, por parte do Exército Brasileiro. O Comandante da 6ª RM, General de Divisão Gonçalves Dias, ao visitar a reunião das religiões de matriz africana e indígena (Candomblés e Umbanda) foi homenageado com a entrega de um cartão de agradecimento pela inclusão das aludidas religiões nas atividades religiosas oficiais das Organizações Militares da 6ª RM.





A cerimonia foi a primeira a constar oficialmente do calendário das atividades religiosas da Capelania da 6ª RM, nas comemorações de datas festivas. Muitos representantes, inclusive sacerdotes e sacerdotizas, do Candomblé e da Umbanda prestigiaram o evento, que também contou com uma comitiva da Secretaria Municipal da Reparação (SEMUR), incluindo o secretário Ailton Ferreira, além de militares do Exército Brasileiro e da Polícia Militar do Estado da Bahia, acompanhados por seus familiares e convidados.

Como oradores foram convidados o Pai Raimundo de Xangô (sacerdote umbandista) e o Pai Eurico Alcântara (sacerdote do Candomblé). O Exército Brasileiro na Bahia, especialmente em Salvador é mais uma instituição que abre suas portas para a consolidação da liberdade religiosa no Brasil.

Dialogando sobre convivência inter-religiosa







A respeito da postagem intitulada "Religiões de matriz africana e indígena na caserna", recebi o seguinte comentário de um amigo colaborador:

“Caro Pastor Fernando Carneiro.

Desejo que me explique se esta comunidade se trata de uma seita ou se vcs são cristãos?
Caso não sejam cristãos, podem desconsiderar o restante do meu comentário e obrigado pela atenção.
Caso o sejam, me expliquem que bases BÍBLICAS esta comunidade tem para as afirmações dadas neste blog e para o seu apoio ao ecumenismo e ao sincretismo religioso.
Desculpe as perguntas, mas, li sobre sua participação em uma marcha contra a intolerância religiosa como representante da igreja evangélica e até onde eu sei a igreja evangélica tem como base Jesus Cristo.
Obrigado.
Fábio Dantas 01 Fev 2011.”

Tentando responder ao amigo e irmão Fábio Dantas, fica a disposição a presente postagem:
 
Irmão Fábio Dantas,


Primeiramente quero pedir desculpas por não ter respondido ou comentado sua colaboração à época da postagem (01/02/11), pois como meu blog raramente recebe um comentário, me passou despercebido seu pronunciamento. Somente percebi que havia seu comentário, hoje (01/05/11) quando realizei a última postagem.

Também gostaria de agradecer por realizar o comentário que agora passará por uma reflexão.

Quanto a sua primeira pergunta, informo que a comunidade da qual participo denomina-se Igreja Evangélica Antioquia, utilizando a sigla IEA, localizando-se atualmente no bairro do Torroró, em Salvador, na Bahia.

Apesar de denominar-se “igreja evangélica”, a comunidade é muito diferente do que a maioria das pessoas conhecem por esse nome, uma vez que tal nome nos leva a pensar no modelo tradicional de igreja do qual estamos acostumados, principalmente as que aparecem na mídia televisiva. Nessa comunidade (IEA), os membros são de diversas denominações cristãs (católicos, evangélicos diversos, protestantes, etc) e também de outras religiões como espíritas, candomblecistas, umbandistas, inclusive pessoas sem religião. Por esse motivo dizemos que é uma igreja no sentido de comunidade e evangélica por tentarmos vivenciar o significado original evangélico (boa nova, acolhimento, fraternidade, etc). Portanto, também nos consideramos cristãos, quando conseguimos exercitar na prática do dia a dia, esses preceitos que acabei de citar. Dependendo do conceito de "seita" que se adotar, pode ser que alguém a denomine assim, pois a comunidade não segue o padrão dogmático tradicional de uma “igreja evangélica de doutrina convencional”. Sabemos que são dos mais diferentes tipos e teologias tais "igrejas". Ficamos confortáveis quando também somos chamados de comunidade alternativa.

Como nos entendemos cristãos, você pergunta quais as bases bíblicas que utilizamos? A Bíblia é um livro muito rico e cheia de passagens que retratam várias orientações de vida em comunidade, algumas positivas, outras negativas. Vejamos algumas positivas.

Uma delas é o “amor” entre as pessoas. São tantas as passagens que falam desse sentimento (humano e divino) que facilmente encontrarás ao folhear suas páginas. Dificilmente algo diferente do amor teria condições de fazer, no mundo em que vivemos hoje, cada um de nós com nossas “verdades”, convivermos de forma harmoniosa, respeitando as diferenças uns dos outros, inclusive as diferenças de crenças ou religiosas, pois quando tratamos destas questões dificilmente conseguimos nos entender e estender as mãos uns aos outros. Seguem algumas passagens que falam do amor (Provérbios 10, 12; Provérbio 10, 17; Jeremias 31, 3; Mateus 24,12; Lucas 11, 42; João 5, 42-43), mas se desejar entender melhor o que nossa comunidade tenta vivenciar, por favor, leia, medite e reflita sobre o capítulo 13 da primeira carta aos coríntios.

Outro preceito bíblico-evangélico é a relação com o próximo, na qual é dito ser o maior dos mandamentos (Mateus 22, 34-40; Marcos 12: 28-34) “Amarás a Deus sobre todas as coisa e ao teu próximo como a si mesmo”, sendo que um mandamento (amar a Deus) não faz sentido sem o outro (amar ao próximo), mas a partir daí se faz uma pergunta: Quem é o nosso próximo? Seriam somente as pessoas da mesma religião que a nossa? Para refletir sobre esta questão seria interessante meditarmos sobre a parábola do bom samaritano (Lucas 10, 25-37), após a meditação cheguemos às nossas conclusões e contextualizemos com os dias de hoje. É um exercício interessante para o entendimento do termo “Evangelho”. Talvez, possamos também, refletir sobre a questão com Gálatas 5, 13-15).

Sobre a marcha da qual participei representando a IEA, que teve a finalidade de afirmar o entendimento da liberdade religiosa no Brasil e protestar contra a intolerância religiosa sofrida, principalmente, pelas religiões de matriz africana (Candomblé e Umbanda), entendo que tem tudo a ver com a mensagem de Jesus Cristo, pois não tenho conhecimento de nenhuma passagem em que Ele pregue a perseguição e a discriminação de outras pessoas por motivos religiosos, pelo contrário, na parábola do bom samaritano (já citada aqui) Ele nos mostra que o nosso próximo, a quem devemos amar e ajudar, é justamente aqueles que tratamos como inimigos ou diferentes por motivos de crença. Basta um olhar mais atencioso para percebermos o que a mensagem bíblica quer nos passar em sua essência. Se analizarmos quem eram os samaritanos e suas relações com os judeus daquela época, talvez cheguemos a um entendimento do que Jesus tenta chamar de "próximo".

Bom! Não posso em um comentário ser muito extenso nas palavras, mas espero que eu tenha contribuído em tentar mostrar minha visão sobre os questionamentos que o amigo e irmão colocou. Mas nem todas as pessoas têm o mesmo entendimento que apresentei aqui, no entanto, outras interpretações devem ser respeitadas, pois partem das experiências pessoais de cada pessoa e a relação destas com Deus.

Para finalizar, deixo a frase construída pela IEA para a caminhada do dia 21 de janeiro de 2011, que é a seguinte:

“A nossa relação com o outro reflete a nossa relação com Deus, uma vez que Deus está em todos nós”.

Mais uma vez, obrigado pela colaboração e um grande abraço. Que Deus lhe abençoe com muita saúde e paz.

Para eventuais contatos meu email é: fernando.teologia@gmail.com






Entrevista com uma adolescente sobre religião



Entrevista com uma adolescente sobre religião


Hoje inauguramos o quadro “Entrevistas da Atualidade” e começaremos entrevistando uma adolescente sobre o tema “religião”.

Fernando: Fale um pouco sobre você. Qual seu nome? Onde estuda? Qual sua idade? Como são seus pais? Onde mora? O que mais gosta de fazer? E quais seus planos para o futuro?





Gabi: Bom, meu nome é Gabriela Galeno. Tenho 16 anos de idade, estudo no Colégio Militar de Salvador e moro no Cabula. Meus pais são um pouco diferentes da maioria dos pais no que diz respeito à religião, apesar de seguirem a risca o padrão quando o assunto não é esse. Tenho uma relação muito boa com eles, mesmo rolando algumas brigas de vez em quando. Deixam-me muito à vontade pra fazer minhas próprias escolhas em determinados assuntos que, normalmente, são impostos aos adolescentes pela nossa sociedade de hoje, como religião e sexualidade. O que eu mais gosto de fazer é sair com meus amigos. Tenho planos de ser muito bem sucedida profissionalmente e economicamente.

Fernando: Você acredita em vida após a morte? O que você acha que acontece depois da morte?

Gabi: Não acredito em vida após a morte. Acho que depois que se morre você vai pra debaixo da terra e tudo acaba. Não acho que existe uma vida fora do “mundo carnal”.

Fernando: Você acredita em Deus? Se acredita, teria como falar como você imagina Deus?
Gabi: Não.

Fernando: Conceitualmente você estabelece alguma diferença entre religião e espiritualidade? Caso positivo, você pode descrever com suas palavras uma coisa e outra?

Gabi: Acho que existe sim uma diferença entre religião e espiritualidade. Espiritualidade, na minha opinião, é o que você sente em relação ao “sagrado”. Religião seria a forma como você expressa essa relação com o “sagrado”.
Fernando: Para o seu pensamento, hoje, sobre religião ou espiritualidade, você acha que recebeu alguma influência de seus pais, amigos ou outras pessoas ou grupos?

Gabi: Apesar dos meus pais me darem muita liberdade para escolher a minha espiritualidade, creio que sofri muito influência deles, por serem pessoas envolvidas com a causa da intolerância religiosa e o respeito à diversidade. Dessa forma, conheço diversas religiões e tipos de espiritualidades, porém, nenhuma delas me atraiu. Meus amigos não têm influência nenhuma sobre esse meu pensamento.

Fernando: Você conhece, participa ou participou de algum grupo de pessoas religiosas? Quais? Relate uma experiência positiva e uma negativa de cada um dos grupos que tenha participado ou participe.

Gabi: Eu já participei de alguns grupos religiosos. Na verdade, até hoje participo. Quando criança, fui católica por convenção de meus pais. Já em outro período da minha criação fui evangélica, também por convenção dos meus pais. Em nenhum desses casos participei por forma espontânea. Hoje em dia, participo de uma comunidade alternativa, uma igreja evangélica que não se encaixa nos padrões de uma igreja evangélica. Em todos os casos há pontos negativos e positivos. No primeiro, acho que a Igreja Católica deveria se renovar mais para atrair pessoas de todas as idades. É uma religião ainda muito fechada a causas atuais. Tradicionalista demais. Assume posições, um tanto que duras, em diversos assuntos como sexualidade, aborto, mulher, política, e ciência. Estamos em pleno século XXI, não vivemos no século passado. Além desse posicionamento muito fechado, acho que a liturgia é uma coisa que me afasta muito da Igreja Católica. Por que eu tenho que rezar o Pai Nosso e a Ave Maria repetidamente por horas? Por que eu tenho que cantar? Por que eu tenho que saber o que falar depois que o padre diz alguma coisa? Por que eu tenho que comer a hóstia? Por que eu tenho que me confessar? Que absurdo! Você tem que confessar os seus “pecados”! É uma forma de dominação! É uma forma de alienação. Todo ser humano tem o direito de fazer da sua vida o que bem entender, sem se preocupar com o que sua religião vai falar! Que espécie de Deus é esse que vai te castigar porque você fez alguma coisa que não está de acordo com o que a Bíblia diz? Até onde eu sei, Deus quer te ver feliz, não é? E não vou nem falar da Bíblia... Acho que a Igreja Católica realiza uma tremenda manipulação de massa. Dita uma forma de conduta que tem que ser feita por todos. Nunca deixaria de fazer alguma coisa que quero por intervenção da Igreja. Eu não me privo de nada. Acho que isso afasta muitas pessoas da Igreja, pois elas não podem ser quem elas são, já que sofrem de retaliação dentro da comunidade. Os que não estão no padrão daquilo que eles querem, são pecadores, e por isso deverão morrer no fogo do inferno. Essa coisa de dualidade nas religiões é outra coisa que me tira do sério. Tudo que não é de Deus, é do Diabo. A Igreja Católica e Evangélica se aproximam bastante no que diz respeito a isso. Todas as outras religiões que não estas, são do demônio. Eu acho que é preciso deixar bem claro o que Jesus pregava na época em que viveu e o que as Igrejas Católicas e Protestantes fazem hoje. Se fizermos isso, conseguimos ver distintas diferenças no discurso. Jesus pregava o amor ao próximo. Jesus falava sobre respeito. Jesus era amor. E o que as Igrejas pregam? Elas crucificam os ditos “diferentes”. Elas se acham tão donas da verdade, que se vêem no direito de apontar as outras religiões como demoníacas. Elas se afastam e fazem tudo o que Jesus queria que não fizessem. Diante de inúmeros casos que confirmam essa teoria, eu me pergunto: Não seria o Diabo o grande crucificado dessa história? Que Deus é esse? Por isso, hoje em dia, participo de um grupo que acho que tenta seguir esses preceitos de Jesus, voltados para o respeito às diferenças. Outras religiões que são demonizadas, como o Candomblé e a Umbanda, são muito mais humanas do que as Igrejas Católica e Protestante, portanto, são muito mais parecidas com a mensagem de Jesus.

Fernando: Você já se pegou pedindo ou agradecendo alguma coisa a Deus?

Gabi: Agradeço várias coisas a Deus. Acho que muito mais por costume e influência do meio. Quem nunca falou “Graças a Deus”? Porém, nunca pedi nada a Deus.

Fernando: Você acredita em espíritos? Já teve alguma experiência?

Gabi: Eu não acredito em espíritos até que apareça um pra mim. Assim como não acredito em Deus, já que nunca o vi. Se um deles quisesse que eu acreditasse neles, certamente que falariam comigo.